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Puberdade

precoce

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"Menstruei aos 10 anos, fui a primeira das minhas amigas a menstruar. Eu tava na quinta série do fundamental I e ninguém havia tido a menarca ainda. Fiquei muito envergonhada na época e pedi pra minha mãe não contar pra ninguém. Por muito tempo, eu sempre mentia para as minhas amigas falando que não havia menstruado, porque eu tinha muita vergonha de ter acontecido tão cedo" - Inessa Maia, 20 anos

 

Aos seis anos de idade, Inessa Maia foi diagnosticada com uma disfunção capaz de causar o início prematuro dos sinais da puberdade. A puberdade precoce, como é chamada clinicamente, pode afetar tantos meninas quanto meninos. Nas mulheres, o desenvolvimento das mamas e o surgimento de pelos pubianos antes dos oito anos de idade são os sinais mais comuns de manifestação da condição clínica.  

 

O segundo sintoma também foi notado por Regina S. em sua filha, aos sete anos, além do "odor de adulto" que ela apresentava à época. A jovem, atualmente com 11 anos, passou os últimos quatro em tratamento e, hoje, é acompanhada semestralmente no  Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH), em Fortaleza. A unidade faz parte da rede pública de cuidados na área, no Ceará.

 

De acordo com Maria Tereza Dias, ginecologista e chefe do Ambulatório da Criança e do Adolescente da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac) a puberdade precoce nas mulheres, em maioria, não têm uma explicação exata. No entanto, em outros casos, ela pode se originar de tumorações, malformações ou por questões genéticas. Por isso, é importante o diagnóstico e o acompanhamento de cada caso para tratá-lo da maneira mais adequada.

 

Uma das principais razões para o tratamento da puberdade precoce é o possível comprometimento da altura final das crianças. Eveline Gadelha, endocrinologista e professora do Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que embora as crianças afetadas pela disfunção apresentem uma altura elevada em relação às outras da mesma idade, a exposição da placa de crescimento a níveis excessivos de hormônio sexual resulta em efeito reverso: ocorre a parada prematura do crescimento por causa do rápido avanço da idade óssea

 

Com a filha de Regina e com Inessa, o tratamento para a puberdade precoce aconteceu por meio de medicações injetáveis. A primeira tomava três doses mensais do hormônio e, após conseguir bloquear o crescimento da estatura, esse processo passou a ocorrer trimestralmente, durante um ano e meio. Os exames eram repetidos a cada tomada da dose, duas horas depois. Hoje, ela está apenas sob acompanhamento com a endocrinologista, até a menarca ou até completar os 12 anos de idade.

 

Era complicado, no entanto, lidar com o processo no dia a dia. Regina conta sobre a dificuldade em conseguir a hormonioterapia pela rede pública. “Quando os exames ficavam prontos, não conseguíamos consulta. Assim, as datas dos exames nunca batiam [e, quando conseguíamos uma consulta], eles já não serviam mais”. Por isso, ela relata que chegou a repetir a realização das avaliações por três vezes até conseguir atendimento médico. “Três meses depois é que deu certo entrar na fila de espera para o Estado liberar o hormônio”.

 

Para Inessa, hoje com 20 anos, a experiência também era cansativa. “O local era longe e eu e minha mãe tínhamos que chegar cedo na clínica pra pegar uma fila e receber a injeção. Além de ter que faltar aula, eu ficava com o bumbum, local da aplicação, dolorido por alguns dias”, relata. 

 

De fato, Eveline Gadelha ressalta que o desconforto decorrente da aplicação intramuscular é a principal queixa do procedimento. Apesar disso, tratar a puberdade precoce central com os análogos do LHRH (sigla em inglês para Receptor do Hormônio Liberador do Hormônio Luteinizante) é um método considerado muito seguro e utilizado há décadas. “A duração é por no mínimo dois anos, a critério clínico, e geralmente, ele favorece um discreto ganho de peso, principalmente em crianças que já apresentavam excesso de peso antes de iniciar o tratamento”, completa Eveline. 

 

Quando criança, Inessa Maia não tinha conhecimento do que seria a puberdade em sua fase precoce, por isso, não se sentiu diretamente afetada pela disfunção. Porém, com o passar dos anos, as consequências a atingiram de maneira mais forte. “Além de ter engordado muito na época, a minha médica disse que eu poderia ter doenças psicológicas devido ao tratamento e à doença. Hoje, faço tratamento para depressão e ansiedade. Meu primeiro episódio de depressão foi aos treze anos e meus psicólogos e psiquiatras sempre atribuíram ao fato de eu ter tido puberdade precoce”, conta a jovem. 

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Onde buscar acompanhamento

Diversas especialidades médicas podem trabalhar em conjunto para tratar a puberdade precoce. Endocrinologia e ginecologia são as principais, mas psicólogos, neurologistas e cirurgiões também podem ser envolvidos no processo, a depender da origem da disfunção. Tanto a rede pública quanto a privada fornecem medicação para o tratamento da puberdade precoce, mas ela é de alto custo. Inessa Maia relata que, à época de seu acompanhamento médico, a aplicação da unidade do medicamento custava cerca de 600 reais na rede privada, o que lhe levou a procurar atendimento no setor público. 

 

A Maternidade Escola Assis Chateaubriand, por exemplo, possui um ambulatório especializado de ginecoendocrinologia, responsável pelo tratamento de condições como a puberdade precoce. De acordo com a ginecologista Maria Tereza Dias, nem sempre o tratamento com medicamentos é necessário, mas o acompanhamento médico dos pacientes é geralmente recomendado para verificar a evolução dos casos. 

 

Além disso, segundo a endocrinologista Eveline Gadelha, existem, em Fortaleza, serviços públicos de referência para o atendimento desses pacientes. Locais como o Hospital Universitário Walter Cantídio, o Hospital Geral de Fortaleza, o Hospital Infantil Albert Sabin, o Hospital César Cals e o Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH) possuem ambulatórios especializados, com endocrinologistas e endocrionopediatras habilitados a diagnosticar e a tratar os pacientes portadores da puberdade precoce.

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