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Impactos

Menarca é o nome dado à primeira menstruação e se constitui como um evento marcante, tanto do ponto de vista  fisiológico quanto do psicológico e cultural. Ela surge porque os ovários começam a produzir hormônios a partir do início da puberdade. Como explica Maria Tereza Dias, chefe do Ambulatório da Criança e do Adolescente da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), “a puberdade são as alterações fisiológicas que culminam na menarca”. “Entre os oito  e os 14 anos, a menina começa a perceber mudanças no corpo como desenvolvimento da mama e surgimento de pelos mais grossos, escuros e encaracolados. Depois, por volta dos nove aos 16 anos, vem a menarca”, completa a ginecologista.

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surgimento de pelos

desenvolvimento das mamas

crescimento dos quadris

A primeira menstruação é apenas uma das muitas alterações que o corpo do sexo feminino sofre por influência hormonal ao longo da adolescência. Durante a puberdade, o cérebro e os ovários das meninas começam a produzir hormônios. Esses hormônios estimulam as mudanças corporais, o amadurecimento dos óvulos e a multiplicação do endométrio, até acarretarem nos primeiros ciclos menstruais. A primeira menstruação pode ocorrer exclusivamente por ação do estrogênio sobre o endométrio, que é o tecido que recobre a parede interna do útero. Passada a menarca, porém, a tendência é que  se comece a ovular.

Primeiro, a hipófise, glândula localizada no cérebro, envia informação para os ovários começarem a se preparar para o amadurecimento dos óvulos. Assim, os ovários ativam a produção de progesterona  (hormônio pró-gestação), estrogênio (hormônio feminino) e LH (hormônio do crescimento dos óvulos). 

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hipófise

estrogênio

LH

progesterona

O aumento desses hormônios no corpo faz com que o endométrio comece a se desenvolver nas paredes uterinas, enquanto os óvulos crescem nos ovários. No 14° dia do ciclo, geralmente, os hormônios atingem seu pico máximo. É o começo do período fértil e o momento em que os ovários expelem o óvulo maturado. 

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 A partir daí, o óvulo entra em uma viagem até o útero, pronto para ser fertilizado por um espermatozoide. Quando a fertilização não acontece, o óvulo "perde a validade". É quando os hormônios começam a decrescer em produção, e o músculo do útero se contrai para expelir o endométrio. Então, comumente no 28° dia, desce a menstruação!

Um ciclo menstrual é todo o período entre uma menstruação e outra, durando de 23 a 35 dias. Durante a adolescência, os primeiros ciclos nem sempre são regulares. Ao mesmo tempo, as menstruantes de primeira viagem passam por diversos conflitos. "Normalmente, nessa fase, a criança começa a perceber que está virando adulta. Então existe um medo e uma expectativa em relação a isso", explica Maria Teresa. "Às vezes tanto se espera demais por ela como também surge o medo de deixar de brincar e de ser criança". Isso gera alterações de humor e às vezes até um isolamento comum na adolescência.

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que o acontecimento da menarca é um ritual de passagem, considerado de extrema relevância pelas adolescentes. Por meio da menarca, a menina descobre seu papel social e a partir dela desenvolve valores, atitudes, crenças, princípios e vontades, servindo de base para a consolidação de seu processo natural de desenvolvimento psíquico. Ao mesmo tempo, diante dos tabus da nossa sociedade e da ausência de diálogos sobre o assunto, a menarca é relatada como uma experiência negativa, relacionada a sentimentos de medo e angustia.

"Minha menarca foi aos 10 anos, e durou 10 dias. Eu me senti diferente, mais fraca e vulnerável que meus irmãos. Fui a primeira das colegas de escola, e tinha vergonha de falar sobre isso. Da primeira até a segunda menstruação, houve um intervalo de 7 meses. O que contradizia tudo o que eu havia lido nos livros. Eu achava que meu corpo era "anormal", e que eu nunca iria menstruar de novo" - Jéssica, 24, estudante*

Expectativas e exigências sociais também podem afetar a relação com o próprio corpo e com a menstruação. A chefe do Ambulatório da Meac acrescenta que "culturalmente, os próprios familiares começam a cobrar outros comportamentos da criança e isso dá um nó na cabeça dela". Simultaneamente, falas de preocupação da família, sobre as dores das cólicas, por exemplo, passam uma visão de que só virá sofrimento dali para frente. "A gente sabe que não é bem assim. É preciso aceitar as fases da vida e as transformações pelas quais o corpo passa", aconselha a especialista.

"Eu menstruei pela primeira vez aos 11 anos. Mesmo o assunto não sendo tabu aqui em casa, eu escondi da minha mãe, porque não sabia que aquilo era menstruação, O primeiro ciclo nunca vem vermelhinho, sabe? Por ser muito nova foram anos me escondendo. Ninguém podia saber que eu menstruava" - Thais, 21, estudante*

Em 2018, uma pesquisa realizada pela marca Sempre Livre com 1.500 mulheres, de 14 a 24 anos, em cinco países (Brasil, Índia, África do Sul, Filipinas e Argentina),  mostrou que 54% sabiam absolutamente nada ou tinham poucas informações sobre menstruação na época da sua menarca. Para Maria Teresa, conversas com mulheres próximas explicando o que vai acontecer são cruciais para que a criança enxergue as mudanças com mais naturalidade. Outras formas também eficazes para que a jovem compreenda esse novo processo são a ida a um ginecologista assim que os primeiros sinais puberais aparecerem e até a disponibilização de livros adequados para a idade.

"Quando menstruei pela primeira vez me senti a pessoa mais incrível do mundo. Nunca senti vergonha por estar menstruada. Já aconteceu de absorvente cair na frente de todo mundo e eu só sorrir. Minha tristeza é pelo mundo não compreender nossos ciclos" - Ana Catarine, 30, enfermeira*

A pesquisa internacional indicou ainda que 39% das mulheres pedem um absorvente emprestado como se fosse um segredo. Conversar naturalmente sobre o tema desde cedo, tratar a educação sexual como algo natural e abrir espaço para responder dúvidas das garotas pode ser um caminho para quebrar tabus e para que a menarca seja compreendida como mais uma fase normal da vida.

* Os depoimentos utilizados na matéria são trechos recebidos pelo Especial Fases. Você pode lê-los na íntegrana aba Relatos.

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