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Menopausa

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Reaprender a morar no próprio corpo

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil terá 58,2 milhões de idosos até 2060. O número equivalerá a 25,5% da população brasileira

Clinicamente, menopausa é o período no qual a menstruação cessa. De acordo com a ginecologista Gabriela Alcântara, o climatério, que é a transição entre a fase reprodutiva e a senilidade, pode durar alguns anos e vir acompanhado ou não de sintomas. O processo varia de mulher pra mulher. Para além de termos clínicos, a menopausa pode ter diferentes impactos nas vidas das mulheres. Basta lembrar que a produção dos hormônios femininos adquiridos desde a adolescência está acabando. Essa mudança, tanto física, quanto psicologicamente, pode ser muito incômoda.

 

Para dona Izaura Silva, de 73 anos, menstruar era uma experiência cansativa. Tendo a menarca acontecido aos doze anos, a senhora relata que não costumava sentir cólicas fortes. Porém, Izaura tem outras queixas.  

 

“Eu sempre fui muito de frequentar homeopatia. Eu me lembro que teve uma época que eu fui em um médico homeopata, da linha holística, e a primeira pergunta que ele me fez foi ‘você gosta de ficar menstruada?’. Resposta: doutor, se o senhor ficasse uma semana menstruada, tendo alergia ao absorvente, ficando toda ferida, o senhor gostaria? Aí ele ficou calado, né. Mas sempre foi assim.” 

 

Aos 40 anos, dona Izaura começou a sentir os impactos da transição menopausal. Durante os dez anos seguintes, ela relata ter tido “tudo o que se possa imaginar”. “Eu tive aqueles calores que o pessoal olhava pra mim e dizia assim ‘você tá tendo alguma coisa?’ Eu ficava roxa, roxa mesmo. E tive aquelas hemorragias horríveis, eu me lembro que às vezes tava mais de 40 graus e eu enrolada em cobertor sentindo frio. Então, foram dez anos, que, sinceramente, eu não tenho saudade nenhuma”, conta a senhora. 

 

Segundo Gabriela Alcântara, hemorragias nesse período não são comuns, visto que os ciclos irregulares durante a transição menopausal costumam durar apenas alguns meses. “É importante destacar que nessa fase qualquer sangramento transvaginal anormal deverá ter sua causa investigada e avaliada por um ginecologista”, pontua a profissional. Já os fogachos, também conhecidos como as ondas de calor, estão entre os sintomas mais comuns dessa fase. Porém, nem todas as mulheres os manifestam.

 

É o caso de Mônica Pamplona. Aos 59 anos, dona Mônica relata que nunca sentiu “aquele calorão, aquele desespero que todo mundo tem”. A convivência com a menstruação ao longo da vida foi, no entanto, dolorosa. Mônica teve sua menarca aos onze anos. A dor que sentia nos seus ciclos era tão forte que ela não conseguia sair de casa quando menstruada, além da forte intensidade do fluxo.

 

Com o tempo, os médicos passaram a suspeitar que Mônica sofria de uma condição clínica que atinge muitas mulheres: a endometriose. A senhora enfrentou muitas dificuldades para engravidar, tanto que a sua primeira e única filha nasceu quando Mônica já tinha 34 anos, após quatro anos de tentativas. Depois do nascimento da filha, Mônica resolveu tirar o útero. A biópsia do órgão confirmou as suspeitas médicas sobre a endometriose. 

 

Por ter passado pela cirurgia de retirada do útero, dona Mônica não sofreu com os sintomas da transição de forma mais direta. Para a ginecologista Aloma Silva, a aceitação da menopausa para as mulheres varia de acordo com a intensidade dos sintomas. Aquelas que apresentam a “sintomatologia de forma bem exuberante têm mais dificuldade de encarar a menopausa”. Por isso, em alguns casos, a recomendação médica é a da reposição hormonal. 

 

Repensar o envelhecimento

A sociedade tem dificuldades em aceitar o envelhecimento, principalmente quando relacionado às mulheres. É o que diz a geriatra Ianna Lacerda, que também comenta o quanto o papel social feminino já esteve associado à capacidade reprodutiva. “Minha avó pensava assim, por exemplo. Muitas idosas naquela época achavam que a vida era reproduzir. Tinha onze filhos, doze filhos, vinte filhos”, explica Ianna. Assim, o período da transição menopausal é muito complexo. 

 

Além disso, muitos ainda percebem a menopausa como uma doença. Por outra perspectiva, Ianna a vê como um período da vida. “Um dia a gente vai ser adolescente e os hormônios vão começar a aparecer. Um dia você vai ter filhos. E um dia vai acabar, né. Provavelmente, essa mesma pessoa chama o envelhecimento de doença, que não é uma doença, é uma fase que todos nós vamos ter que passar”, explica a geriatra. 

 

Apesar de ter sofrido com fortes sintomas da transição menopausal, dona Izaura Silva encara a menopausa de forma natural. Para a senhora, “é normal passar por esse processo”. “Eu sou muito assim, as coisas vêm e são fases da vida. Eu sempre fui muito otimista. Então não fiquei assim, chocada. Lógico, não gostei, né. Uma vez eu fui trabalhar, quando me levantei do ônibus tava absolutamente toda suja. Quer dizer, não é uma coisa agradável. Mas como tudo na vida, passa. E isso também passou”, completa Izaura. 

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Sexualidade

As mudanças hormonais enfrentadas na menopausa também afetam a sexualidade. Entretanto, o medo pode ficar de lado. A ginecologista e sexóloga Rayanne Pinheiro explica que cada mulher enfrenta a diminuição do apetite sexual de diferentes maneiras. Para aquelas que tiveram vidas sexuais ativas na juventude, o corpo quase não sente o impacto da menopausa em relação à libido. Já para as que não curtiram tanto assim, a queda pode ser brusca.

 

Infelizmente, a preocupação das mulheres está longe de ser com o prazer delas. É o deles que as deixam inquietas. Apesar de os homens também enfrentarem diminuição nos níveis de testosterona - hormônio masculino -, a cultura de estímulo à sexualidade masculina os faz sentir em menor grau as transições hormonais. Quando o casal começa a sofrer pela ausência de satisfação sexual, a indicação de Rayanne é certeira: terapia sexual.

 

Ela explica que, devido à costumeira banalização da educação sexual, principalmente no caso da geração atual de idosos, as pessoas chegam na terceira idade repletas de dúvidas sobre sexualidade e os próprios corpos. “Uma consulta com o terapeuta sexual para tirar dúvidas seria fantástica, acho que para todas as pessoas seria interessante”, reflete a sexóloga. “Essa questão de diminuir o desejo sexual, dessas mudanças sexuais, está gerando sofrimento? Gerando dúvidas? Dificuldade no relacionamento? Se a resposta for sim, com certeza a terapia sexual está bem indicada.”

 

Aliás, sentimentos como vergonha de discutir sexualidade precisam ser deixados de lado. Por ser dimensão natural da essência humana, a procura da terapia sexual por idosas tem crescido. “Eu tenho percebido que nos últimos anos, as mulheres em busca de manterem uma vida sexual ativa por mais tempo, de buscarem o prazer que às vezes nunca tiveram, tem crescido. Isso me anima muito”, comemora Rayanne.

 

Outra consequência da menopausa é a chamada atrofia vaginal. Nela, a mucosa da vagina fica mais fina, prejudicando a lubrificação interna. Por conta disso, o sexo pode ser mais doloroso para as mulheres. Para contornar o desconforto, existem tratamentos com cremes vaginais com hormônios, para diminuir a atrofia, ou sem hormônios, para aquelas que tiveram câncer de mama ou pacientes de alto risco para câncer. Além disso, recomenda-se o uso de lubrificantes próprios para o ato sexual ao utilizar brinquedos sexuais.

Para explorar o sexo

Rayanne Pinheiro também é youtuber! Ela mantém o canal Consultório da Ray, com mais de 13 mil inscritos, no qual fala sobre ginecologia e sexologia. Nos 71 vídeos já publicados, a profissional já discutiu temas como menopausa, pornografia, dicas para alcançar o orgasmo e métodos contraceptivos.

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